segunda-feira, 9 de março de 2009

A Poesia dos ciganos




A literatura cigana "escrita" é formada em primeiro lugar pela transposição por escrito da tradição oral.
Em seu interior se acha uma ampla produção poética, expressão de sentimentos que nascem das experiências da vida cotidiana ou do desejo de uma redescoberta dos valores tradicionais fundamentais.
O processo de emancipação no plano social e político iniciado nas últimas décadas colocou as bases para a formação de uma elite intelectual cigana.
A redescoberta de valores importantes, entre os quais o uso da língua materna, tem, entre outras coisas, induzido alguns Rom e Sintos, entre os mais sensíveis, a um salto de qualidade na tradicional narrativa cigana, favorecendo uma passagem da forma oral à forma escrita.

Um exemplo da sensibilidade que transborda do ânimo dos Rom e dos Sintos nos é dada por esta poesia, composta por
Usin Kerin.
Cigano búlgaro nascido em 1929, durante uma parada da caravana às margens do rio Vit.
A poesia a seguir faz parte de uma série de composições autobiográficas.
Nesta ele narra o momento de seu nascimento, que coincide com a morte de sua mãe... Nascimento no acampamento
Nascí entre as velhas tendas,em meio ao falar dos Ciganos que narram à luz da lua a fábula de uma branca cidade distante.
Nascí na miséria, entre os campos ao longo do Beli Vit, sob plangentes salgueiros,onde a angústia aperta os corações e a fome pesa no saco de farinha.
Nascí num dia triste de outono ao longo da estrada envolta em neblina,onde a necessidade chora junto aos pequeninos e a dor destila quente entre os cílios.
Nascí, e minha mãe morria.
O velho pai me lavou no rio:
por isso é forte hoje o meu corpo e o sangue me escorre dentro impetuoso.

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